Catálogo-geral da 19ª Bienal Internacional de São Paulo
A escultura de Angelo Venosa sugere-me as seguintes observações:
1. Ela participa do processo renovador da escultura atual, que é paralelo à transvanguarda, aos novos fauves, ao pattern e à new Image.
2. No Brasil insere-se na vertente construtiva e absorve elementos de nossa raiz barroca. Contudo, seu minimalismo não revela a neutralidade da sociedade industrial, faz ponte com a arte povera e as correntes arqueológicas.
3. A escultura de Venosa não é feita de desbaste ou subtração, mas de acréscimos. Bricolage. Soma materiais e resíduos de materiais. Ao invés de elevar-se a partir do chão, deixa-se pender do teto, um quase-corpo, uma estrutura que tende ao amolecimento. Sua escultura mimetiza a forma dos materiais de que é constituída: o poliéster continua o galho, que é fragmento de corpo e, assim, termina em osso.
4. Venosa vai direto à estrutura óssea desse quase-corpo. Ela é vértebra só: juntas, discos, articulações. E, ao tornar visível essa estrutura interna da obra, exacerba essa visibilidade. É assim barroco e brutalista. Mais que isso: é um designer, ou, como diria Deacon, um fabricante.
5. É um Henry Moore às avessas. Sua escultura sugere algo inconcluso ou inacabado, algo que volta à sua condição de osso. Mas, fazendo-se ou se desfazendo, é sempre dentro, articulação óssea, vértebra. E ao tornar visível isto, que estava camuflado, Venosa dá a esse corpo uma dimensão perturbadora, intrigante, quiçá onírica - a de que o sonho e o inconsciente também habitam a arte construtiva.
Rio de Janeiro, julho, 1987