É uma posição curiosa a que Angelo Venosa ocupa na tradição recente da escultura.
Aqui, não se filia à corrente neoconcreta. Na perspectiva internacional tampouco se relaciona com a vertente minimalista.
Há uma singularidade em seu processo. Seu próximo, creio, é Dubuffet. Dubuffet é também um explorador da matéria, à busca de uma verdade em estado bruto que só a matéria revela.
Venosa participa dessa busca, mas exprime o sentido não do encontro com a matéria pura em seu estado primitivo, pré-industrial e pré-artesanal, mas o encontro inicial do homem com aquilo que pode modificar através das mãos, o contato primitivo, a primeira argila amassada, ou ainda não formalizável.
Há dois tempos nos quais a matéria se transforma: o tempo ágil e histórico do homem e o tempo milenar e imemorável da natureza. Venosa age na interseção desses dois tempos, a exemplo dos trabalhos que mostra na 19ª Bienal de São Paulo.
Desde o início sua construção escultórica é ainda um processo excessivamente físico, laborioso, lento, de um tempo quase agrário, arcaico.
Assim, a pequena propriedade rural difere das imensas e mecanizadas plantações modernas: na primeira ainda se diferencia a natureza; a segunda só pode ser vista através da perspectiva aérea, onde aparece como vasta superfície geométrica. Na primeira, tal como no trabalho em questão, percebemos uma expressividade inerente; a atividade do homem, e uma aparente indiferença na sinalização; o emergir da natureza.
Surge então um tempo imobilizado, do fóssil, do pré-histórico, espantoso e irreconhecível. Algo que se esconde e se revela através de camadas e camadas – Angelo trabalha através de camadas – num processo que se assemelha a escavações ao contrário. Escavações que, por reconstrução, nos apresentam formas incongruentes, inusitadas, que não chegam a ser irracionais, mas que obedecem a lógica do trabalho arcaico, do tempo milenar da natureza, da corrosão geológica.
São seres imemoriais, monstros atuais, prontos a retornar de uma existência esquecida, prestes a se mover, a realizar o primeiro passo em direção à vida. O estranho familiar do primeiro encontro com a matéria.