Ao vermos Angelo Venosa reinventando sua própria produção depois de mais de trinta anos de carreira, percebemos que o contato entre arquitetura e vida se faz urgente. E, com isso, são criadas, nos termos de Jean Luc-Nancy, “arquividas”, gerando vida a partir da vida, tomando impulso, se propagando, disseminando-se.
Angelo Venosa, um dos principais escultores da arte brasileira, apresenta-nos a exposição Decompor.Compor, a qual, composta por duas peças, ocupa a Galeria Candido Portinari, na UERJ.
A relação entre escultura e espaço rendeu laudas históricas de reflexão, nas quais se discutia a impossibilidade de separação dessas duas instâncias: obra e espaço. Ou seja, escultura é espaço. De outro modo, ampliou-se tal pensamento ao se declarar o espaço como algo orientado, político, não neutro, nos termos de Miwon Kwon.
Venosa, com isso, alia, nesta exposição, interesses em lidar com a vida das formas e, ampliá-las, orientá-las. A vida, nas pesquisas recentes do artista, tornou-se reconduzida, pois as formas atuais, muitas vezes, nascem de impressoras que se utilizam de filamentos com aproveitamento de materiais. A vida, então, gera vida e elimina o descarte.
O artista tem, nas duas peças expostas, seus interesses evidenciados ao nos mostrar o encontro entre as arestas, na junção de planos, revelando-nos os modos como são construídas formas esféricas (geodésicas) sem torções de materiais ou derretimentos da matéria. As presilhas, retiradas das funções banais e corriqueiras, promovem segurança aos encaixes, além da possibilidade de sustentação do volume da peça. Na obra de Angelo, a mistura de materiais de procedências variadas sempre esteve presente.
Ao utilizar-se do pensamento para construção de geodésias, domos, Venosa se aproxima da engenharia de Buckminster Fuller, arquiteto e designer americano que inventou cúpulas geodésicas, nos anos 1950. Hoje, os mesmos domos criados por Fuller contribuem para construção de observatórios astronômicos e casas para refugiados, por conta da agilidade de montagem e do baixo custo.
Ao vermos Angelo Venosa reinventando sua própria produção depois de mais de trinta anos de carreira, percebemos que o contato entre arquitetura e vida se faz urgente. E, com isso, são criadas, nos termos de Jean Luc-Nancy, “arquividas”, gerando vida a partir da vida, tomando impulso, se propagando, disseminando-se.